Pé na estrada, graninha no bolso e um montão de kms
até o próximo destino, Alto Paraíso – GO, mas em um dia só seria muito
cansativo. Pra que a pressa?
Estrada longa, sem muitos pontos de apoios ou paradas, a mata era
predominante em ambos os lados e a ganância também: à margem da estrada,
escritórios anunciavam serviços voltados à exploração do agronegócio na última
fronteira agrícola do Brasil (Matopiba) até um anúncio de Correntão para
desmatamento, prática ilegal e de grande dano ao meio ambiente.
Apesar dos pesares, a vista era linda <3 nbsp="" td="">3> |
Chegando a Chapada da Natividade - TO, ficamos impressionados com a
arquitetura colonial e como estão preservadas as casinhas e ruas estreitas.
A cidade foi tombada pelo IPHAN em 1987, talvez por
isso os traços do século XVIII ainda estejam tão preservados. Conhecemos as
ruínas da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por
escravos no século XVIII, mas que não foi terminada por falta de recursos.
No local, havia uma imensa mangueira carregada de mangas maduras. Van e Meleca
se esbaldaram.
Manga madura = muito amor! |
Procuramos informações a respeito de uma cachoeira
que havia no local, mas no caminho nos informaram sobre a seca e que não daria
pra banhar. Fazer o que... deixamos para outra oportunidade e resolvemos seguir
estrada.
A vista era realmente incrível. Em alguns lugares
cruzávamos com largos rios, outros com imensos paredões, tudo muito fascinante.
Chegando a cidade de Arraias - TO, a mais alta da
região norte do país, o que nos garantiria um climinha mais confortável. Todo o
percurso pelo Tocantins foi regado a dias bem quentes, o que nos deixava numa
busca insana por sombra, e chegar à última cidade desse estado sem ter de se
preocupar com sobra nos confortava.
Arraias é uma cidade de ritmo pacato, e que foi área
de exploração de ouro e prata no período colonial. Muitas casas ainda trazem
características dessa arquitetura colonial portuguesa. Nas ruas mais afastadas
do centro já chegaram as construções mais novas, o que nos indicou que a cidade
vem crescendo.
Estacionamos pela praça em frente a igreja e os olhares para o interior da Kombi eram furtivos, todos passavam desconfiados, outros tiravam fotos, cumprimentavam.
Era sábado e todos estavam indo à igreja para os festejos
em comemoração à padroeira Nossa Senhora dos Remédios. Passamos com os
brigadeiros, na esperança de aproveitar o movimento, já que a Gertrudes estava
bebendo um pouco a mais do que o planejado. Apesar da cidade estar cheia os
doces demoraram a sair, mas no final tivemos sucesso.
Os postos de gasolina não funcionavam 24 horas, então
resolvemos passar a noite no estacionamento da rodoviária. Antes, porém, fomos
checar com algumas pessoas sobre a “tranquilidade” da noite no local. Eis que um
rapaz a quem o Vini pediu informação disse para passarmos a noite no
estacionamento da pousada em que ele trabalhava e ainda nos convidou para
jantar.
Convite aceito! Sentamos em um barzinho, no qual
estava ele e o pai, o Seu Juca, um matuto criado a vida inteira na roça que
contava milhões de causos e contos, e nos deixava boquiabertos com tantas
vivencias.
“No tempo de gente besta que não sabia ler nem
escrever”, “Inteligente era gente de antigamente, hoje em dia é só cópia do que
inventaram lá atrás”, “Pensa num moinho de cana-de-açúcar... foi base para
construir tudo que temos hoje”, “Sobe em cima do cupinzeiro pra fechar o
corpo”, “Gente com olho ruim faz as coisas darem errada, pode até ser gente de
bem, mas tem o olho ruim, aí tem de levar a pessoa na benzedeira pra desfazer o
olho” .... Eram causos que não acabavam mais e nos deixavam ansiosos por mais
histórias, mas o sono nos consumiu e fomos dormir.
Ainda em Natividade, a igreja em ruínas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. |
Apesar de ser uma cidade convidativa e na qual facilmente prolongaríamos nossa
estadia, precisávamos lembrar do nosso compromisso e data marcada para chegar em Alto Paraíso – GO. O dia
seguinte, portanto, seria de estrada logo cedo! Acompanhe para saber como foi J
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