Boa tarde...
Finalmente retornamos, aliás devemos satisfações
pelo sumiço por todo esse tempo.
No 1º mês de Ilha estávamos sem computador (deixamos
em Salvador), mas de qualquer forma o acesso à internet na ilha é raridade, vez
ou outra aparece algum sinal de wifi onde trabalhamos. E claro, nosso tempo...logo
entenderão. Boa leitura! Hahaha...
Então, durante esse tempinho longe de casa,
família, amigos nós temos pensado muito positivo. Tipo, acreditado na
providência de que tudo sempreee dará certo.
Mas, percebemos que a Gertrudes é um pouco temperamental e nesse caso não
podemos arriscar que ela sempre estará disposta a nos levar a qualquer lugar.
Por isso, a decisão em trabalhar por um período
para ter alguma reserva em contratempos.
Logo, ao término do projeto na escola em
Salvador, era o momento de se preparar para seguir viagem. Em Salvador
estávamos contando com a venda de bolo e brigadeiro....mas, era o suficiente só
pro dia a dia. Procuramos trabalho em Salvador visando a alta temporada e nada.
Pesquisamos um pouco e foi unânime, todos indicavam voltarmos para o sul da
Bahia, pois a proximidade do verão aquece o mercado de trabalho. Ficamos na
dúvida entre Itacaré e Morro São Paulo. A princípio Itacaré seria mais fácil,
pois já conhecíamos e o Morro nos atraía pois seria novidade...pesquisando
informações em grupos no face, eis que Van conheceu a Bianca, que estava
morando em Morro com a finalidade de também trabalhar, trocamos figurinhas e...ZAZ
vamos ao Morro. Pesquisando mais, soubemos que lá havia uma casa chamada One
Love, onde você paga 5,00 dilmas por dia e usufrui de cozinha, banheiro, etc.
Ótimo! Gertrudes fica em Salvador na garagem dos pais da Van e nós, dedão na
estrada pedir carona. São quase 200km de Salvador até o Morro, incluindo Ferry Boat
e o barco até a Ilha. De mochila nas costas saímos na sexta (13) bem cedo...
Então, ônibus até o Ferry, depois 1h até
Itaparica. Chegando em Itaparica imaginamos que seria tranquilo de carona,
afinal recebe muitos turistas. #SQN! Turistas não dão carona e os moradores locais
dão "carona" e cobram por isso....haha. Tipo...o bus de Itaparica
para Valença ficava em $22, o transporte alternativo (tipo lotação) custava $25,
alegaram que era mais rápido e por isso mais caro. Optamos em sair do Ferry
Boat sem transporte e ir andando pela rodovia tentando carona.
Todaaas, mas
todaaas as pessoas que paravam cobravam. Até que um senhor parou o carro e nos
orientou que um pouco mais a frente tinha um ponto de bus e seria melhor
ficarmos por lá, caso continuássemos ali poderíamos adoecer, pois estava muito
sol (bonito sua preocupação). Realmente estava aquele sooool....andamos mais um
pouco e um carro parou e cobrou $40,00 (pelos 2)...choramos e ele cedeu por $30,00...percebemos
que não rolaria a carona solidária. É comum na região esse transporte, já que o
público é muito demorado e porque tudo é realmente muito longe. Enquanto íamos
para Valença, muitas pessoas embarcaram e desembarcaram...pessoas que saiam do
trabalho, senhorinhas vindo das compras.... Enfim, cento e poucos quilômetros
depois chegamos ao cais de Valença. Vini foi se orientar quanto ao barco, até
então tínhamos pesquisado e nenhuma informação era muito certa, uns diziam ser
muito cara a travessia, outros que o valor era acessível e até que não mata...o
barco comum custa $9 e a lancha rápida $15. São 3 opções de transporte: ir de
barco direto do cais de Valença (demoraaa), ou ir de ônibus até o atracadouro e
de lá pegar o barco (trajeto mais rápido, depois da lancha) ou ir de lancha,
pegamos o bus e pouco mais de 1h estávamos em Gamboa do Morro - praia pouco
antes de Morro São Paulo.
Desembarcamos e ali mesmo várias pessoas começaram a
nos abordar oferecendo transporte de malas com carrinho de mão, comum na ilha.
Desviamos da galera e fomos a praça que fica logo a frente...sentamos e em
pouco tempo um senhor puxou assunto.
Conversa vai, conversa vem... e recebemos
a proposta de “ouro”, um teto, pela bagatela de $300, muito bom, pensando que
iriamos pagar o mesmo valor pra ficar na One Love durante um mês. Sem muita
demora, partimos rumo ao nosso novo lar. Chegando lá, acertamos o pagamento de
uma diária, já que não tínhamos dinheiro pra pagar todo o aluguel e também para
saber mais sobre como tudo iria ficar. Já sob nosso teto, e somente teto mesmo,
porquê a casa não tinha nada, só um colchão velho...haha. O dono da casa nos
apresentou os vizinhos de cima Juan e Max, argentinos viajantes e que estão
passando uma temporada na Ilha, também estão construindo uma barraca a beira da
praia (semelhante a um bar), conversamos um pouco e nos deram dicas de onde
procurar trabalho.
Logo em seguida, deixamos nossas coisas pelo chão
e partimos ao encontro da amiga Bianca que nos deu dicas e incentivou nossa
vinda até Morro. A caminho da praia, nos deparamos com o lindo pôr do sol visto
da praia da Gamboa, aquela bola de fogo, redondinha e bem definida, se escondendo
por de trás das montanhas sobre o mar..... Lindo! Ficamos encantados.
Próximos a uma barraca na praia, encontramos
Bianca e seu irmão Victor, que fizeram nossa recepção e nos falaram um pouco a
respeito do dia a dia na ilha, onde poderíamos arrumar trabalho e a locomoção
de barquinho da Gamboa até o Morro.
Ambos já são frequentadores antigos da Ilha e
vieram passar o verão, hospedados na casa de uma amiga nativa da região...a
Cris.
Voltando pra casa, hora do rango! Na mochila,
tínhamos comida suficiente pra uma semana, além do tradicional feijão tropeiro,
que nos acompanha sempre... nhamnham. Alimentados e cansados, fomos “dormir”,
coisa que não sabíamos que era quase um teste de resistência, os mosquitos nos
fizeram uma recepção de primeira, nos acompanharam durante toda a noite.
Acordamos bem cedo, fomos rumo a morro à procura
de trabalho, tínhamos a sugestão de irmos andando pela praia (cerca de 30min) na
maré baixa, pois a vista valeria a pena. Mas, a maré não estava baixa e pegamos
o barco (4$ para turistas), após uns 15 min desembarcamos no cais do Morro,
você é recepcionado por funcionários da TPA (Taxa de Preservação Ambiental) que
gentilmente te conduzem a um guichê para efetuar o respectivo pagamento e poder
entrar no Morro. Mas, não são todas as pessoas que são dirigidas ao guichê, a
seleção é feita visualmente (não sabemos quais são os critérios), felizmente
não fomos parados.
Enfim, na vila, batemos de porta em porta,
pousadas, hostels, restaurantes, lanchonetes, hotéis, bares.... Procurando
qualquer tipo de trampo. Até que recebemos um SIM \o/. Vini conseguiu um teste
para garçom em uma Hamburgueria Argentina, um pouco mais a frente, outro SIM
\o/. Van conseguiu uma vaga em um restaurante italiano.
Agora empregados, conversamos com o dono da casa
em que estávamos e acordamos alugar a casa mensalmente, aí a surpresa: “Então,
essa casa que vocês estão não é 300$ e sim 400$...a de 300$ é aquela de baixo.”
(quase não tinha telhado). Já era noite e não tínhamos o dinheiro para pagarmos
camping ou sair a procura de outra casa. Fechamos esse valor com ele.
No dia seguinte ambos começamos nossos novos
trabalhos, garçons de praia.
Aparentemente a ideia era fantástica, trabalhar
na praia frente ao mar! Nos enganamos novamente hahaha....o movimento de
turistas é frenético, e o volume de trabalho proporcional.
Areia quente, sol escaldante, clientes com
pressa, com fome e sede e claro a necessidade de associar a nova rotina para
acompanhar esse ritmo.
No fim do dia estávamos
acabadooooos...trabalhamos igual gente grande. Mas, tinha aquela reservinha de
energia para o trajeto de volta, barquinho e aquela caminhada até em casa.
Cansados, esperávamos chegar em casa, fazer uma comidinha, uma ducha
quente...#SQN! Chuveiro frio e não tinha fogão kkkk...felizmente tínhamos os
vizinhos argentinos que nos cederam o fogão para cozinharmos.
Na hora de dormir, novamente a companhia
inseparável dos pernilongos e muriçocas rs...e do calor sem ventilador.
Os dias seguintes seguiram da mesma forma, exceto
que as noites que nossos vizinhos não estavam em casa, fazíamos fogueira no
quintal para podermos cozinhar J
Nesse meio tempo, conversávamos com os vizinhos e
com nossos colegas de trabalho sobre a casa em que estávamos morando e todos
diziam que caso procurássemos mais, poderíamos encontrar casas mobiliadas pelo
mesmo valor.
Então, vamos a saga de encontrar essas casas
mobiliadas, porque a vida de fogueira não estava dando certo. Deixamos os
colegas avisados e vez ou outra andávamos pelas ruas atrás de placas de “aluga-se”...a
princípio nada. Sem muita pressa, porque ainda tínhamos 1 mês na casa atual.
Voltando aos nossos trabalhos...Vini estava
trabalhando na 2º praia, onde o fluxo de pessoas é assustador, e onde tem
consequentemente a maior concentração de bares, restaurantes e pousadas. Ou
seja, exigia o máximo de energia possível. Porém, sua remuneração era apenas a
taxa de serviço de 10% que é cobrada de clientes. Ou seja, não tinha salário
fixo, refeição ou pelo menos o valor do transporte de barco.
Pelo que rondamos nos outros restaurantes, é
comum o funcionário não ter salário e vez ou outra não receber nem o valor dos
10%, porque o cliente pode pagar ou não.
Inclusive Vini foi prova disso, pois algumas
vezes voltava pra casa depois de todo um dia de trabalho só com o dinheiro para
pagar o barco.
Já a Van estava trabalhando na 3º praia, mais
afastada da multidão e com um público diferente no restaurante. Contudo, estava
recebendo salário fixo, comissão, refeição e o transporte do barco.
Sem tempo a perder, foi procurar outro
trabalho...inicialmente começou a divulgar uma empresa de mergulho, onde também
receberia por comissão, alguma porcentagem a medida que vendesse mergulhos. Por
não ser uma oferta muito atrativa, continuou a pesquisar outras oportunidades.
Quando nos sobrava um tempinho também saíamos
pelas ruas perguntando pra um e pra outro sobre casa para alugar. Até que
paramos em um bar e nos indicaram procurar por Jaíro, ele provavelmente
conheceria alguém com casa para alugar.
Jaíro nos convidou para uma cerveja e começou a
perguntar para todos que passavam: Fulano, tá ainda com aquela casa para
alugar? Siclano, seu vizinho já terminou aquela casa para alugar?
Cerveja vai, cerveja vem....fomos a uma casa, fomos a outra e nada. Até que
fomos até a casa de Jaíro. Aquele bate papo, contamos nossa história, ele
contou a dele.
Jaíro é nativo da ilha, inclusive boa parte das
pessoas que encontramos na rua faz parte de sua família. (Inclusive o
proprietário da casa em que estávamos morando é seu primo rs).
Jaíro trabalha também em Morro, além de dar aulas
de frescobol para moradores e turistas que vezes vem até a Ilha já a sua
procura.
Realmente nessa noite não achamos a casa, mas
encontramos uma pessoa maravilhosa de alma e coração bons.
Ao fim da prosa, Jaíro se comprometeu a nos
ajudar no que for possível e nos deixou o convite de dividir a sua sala, caso
não encontrássemos casa, assim como nos mostrou o “esconderijo” da chave de
casa para que pudéssemos cozinhar em seu fogão (ainda na caixa) quando nossos vizinhos
não estivessem. Ahhh também nos deu um ventilador, afirmando que a soma de
muriçoca e calor a noite realmente beiram o insuportável.
Apesar da rotina cansativa pacas, sempre que
sobra uns minutinhos e um pouquinho de disposição, íamos a casa da Cris prosear
com ela, Bianca e Victor.
De volta ao trabalho, entre muitos clientes no
restaurante e muita panfletagem pela rua e praias, surge um anuncio de vaga
para garçom numa lanchonete.
Detalhe: enquanto moradores da Gamboa, não
podíamos fechar qualquer oferta de trabalho, pois ficávamos a mercê dos
horários de barco para voltarmos para casa, até as 23:30. Pois, todos nos
alertaram que o trajeto feito beirando a praia, costumava ser perigoso a noite,
e de qualquer forma só poderia ser feito com a maré baixa.
Então, Vini conversou, mas o horário foi um
problema, a vaga seria até as 1h da manhã. Pensamos e resolvemos arriscar.
No dia seguinte, Vini a postos no novo trabalho
para um teste e o chefe ofertou um horário compatível com o barco....\o
O novo emprego tinha um perfil diferente do
anterior, a lanchonete está localizada na 1º praia, passagem obrigatória de
todos os turistas que chegam a Ilha, e ainda oferecia salário, comissão e
alimentação.
Empecilho de emprego resolvido, voltamos ao
probleminha da casa.
Continuávamos procurando, inclusive no Morro, mas
desistimos logo no início, os valores eram absurdos e a maioria “segurava” a
casa para alugar para as festas de fim de ano, época onde faturam valores
consideráveis.
Voltamos a Gamboa, e num dia de folga saímos a
procura...encontramos a mesma situação que no morro. Todas as casas que
encontrávamos eram destinadas a turistas que viriam apenas para Natal e
Reveillon. Começamos a ficar preocupados, será possível que teríamos que voltar
pra Salvador?
Até que nos indicaram as quitinetes do Juarez,
ele gentilmente nos mostrou e salientou...”Essa aqui está vazia, MAS já está
alugada para o réveillon.”
Diante da nossa situação, tivemos a “brilhante” ideia:
sugerimos alugar a casa e desocupar no período de festas, retornando depois.
Juarez achou estranho, mas concordou. O deixamos
como segunda opção e continuamos procurando.
E nada!
Fechamos a quitinete na condição de desocupa-la e
retornar depois. Imaginamos que até lá arrumaríamos um cantinho para uma
barraca nos dias de festa, até mesmo porque tínhamos o Jairo que sempre nos
encontrava e perguntava nossa situação, colocando-se à disposição.
De novo, lá vai os bonitos de mochila nas costas.
Impressionante é que o pouco que trouxemos, se
multiplicou e de repente nos vimos com um montaréu de sacolas pra mudança.
Já na nova casa, toda mobiliada, mas com chuveiro
frio rs...os dias seguiram sempre com a mesma rotina...Vini acordando cedo indo
a padaria comprar pão e voltando a dormir.
Curiosidade: a padaria fecha assim que o pão
acaba e isso acontece por volta das 8/8h30 (de madrugada rsr).
Aí então, acordamos tomamos café e bora
trabalhar. Van começa o perrengue entre 12/13h até 22 e Vini das 16 até 23.
Chegando em casa banho e cama...(vez ou outra
aquela prosa) qualquer coisinha fora dessa rotina somente as segundas, dia da
folga.
Pensando em não deixar as folgas passarem em vão,
bolamos uma reuniãozinha com a galera que conhecemos até então...numa das
folgas fizemos a noite do cachorro quente.
A Cris foi a anfitriã (Cris, amiga de Bianca e
Victor), aliás a Cris sempre nos recebe de braços abertos. Convidamos os amigos
argentinos Juan e Maxx, Nathália (irmã da Cris), Robert (sobrinho da Cris) e
Bianca e Victor.
A saudade de um cachorro quente paulista era
enorme, fizemos tudo em casa e depois aquele bate papo.
Foi uma noite de grandes trocas, oportunidade que
tivemos de assistir o curta “Menino da Gamboa”, protagonizado por Oscar (filho
da Natália) e Robert (sobrinho).
É realmente curtinho, mas retrata um pouquinho da
ilha mostrando os carregadores de carrinho de mão...soubemos pouco a respeito,
mas foi produzido independentemente.
A noite foi ótima, ver todos entrosados e
trocando histórias fez tudo valer a pena.
Por outro lado foi também a despedida do Victor,
irmão da Bianca e um dos primeiros a nos receber no morro e com quem trocávamos
figurinhas sobre suas andanças pelo mundo a trabalho.
Ufa....temos bastante história acumulada, todo
dia na ilha tem uma novidade...paramos por aqui, mas já estamos preparando um
novo relato.
Até mais!!