terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Os bichos do mato em BH

Saindo de Sete Lagoas, deixamos de conhecer a gruta Capitão do Mato por falta de grana. Fazer o que 😢😢😢 a vida na estrada tem dessas.

Seguimos estrada para BH, esperando a oportunidade de vender brigadeiros e complementar o valor dos pedágios. Também em contato com alguns amigos para nos ceder um cantinho para pouso e estávamos aguardando retorno.

A distância era pequena entre uma cidade e outra, mas a Gertrudes, debilitada, seguia vagarosa. Mas ela foi persistente: no caminho teve até uma pausa para dividir um pão com linguiça.

Chegando em BH, enormes prédios nos cercavam. Parecíamos formiguinhas naquela imensidão. Somos bichos do mato e já havíamos nos desacostumado com isso.


"Eu me perdi na selva de pedraaa"  🎶

Um amigo que havíamos conhecido em Morro de São Paulo – BA estava chegando à cidade e nos encontraria na Praça da Liberdade, e lá fomos caçar a tal praça.

A cidade tem avenidas muito íngremes, muitas delas com semáforos, e em algumas a Gertrudes sofreu para subir. Em outras ela nem conseguia e precisávamos dar ré em meio ao transito. Com toda aquela tranquilidade de quem está a bordo de uma Kombi e nem ligando para os motoristas enlouquecidos que passavam ao lado ou paravam atrás buzinando e xingando, Gertrudes lindamente parava o trânsito enquanto “desfilava” ahahaha

Não achamos a praça, e perdemos contato com o amigo, pois o celular descarregou. Oh, treva!

Decidimos buscar alguém que nos acolhesse pela plataforma do couchsurfing, e para nossa surpresa ninguém podia nos receber, ora por não estar na cidade, ora por estarem estudando para provas, ora por já estarem com couch em casa... enfim, só conseguimos algumas dicas pela cidade.

Nos indicaram o bairro da Savassi, onde havia uma praça com alguns restaurantes e as vendas seriam certeiras.

Antes das vendas precisávamos de um banho. Um frentista nos sugeriu ir até a rodoviária, e como toda cidade grande, vagas para estacionar no entorno eram raras, e quando tinham eram pagas.
Chegando lá... QUE ABSURDO! Um banho custava R$8 golpinhos! Ficamos sem banho, suados, e decidimos arriscar as vendas assim mesmo... hahaha



Chegando à Savassi, o movimento estava meio fraco, mas tínhamos que tentar. Uma, duas, três abordagens e nada. Até que um segurança nos abordou: “Que isso que estão vendendo? Só podem vender nas fora pra não incomodar os clientes!”. E agora?

Na calçada ficavam algumas mesas “protegidas” por uma corda. Só poderíamos vender do lado de fora dela. Conversamos um pouco com o segurança, contamos nossa história, falamos da Gertrudes e da grana que teríamos que fazer até chegar ao RJ, e ele ficou fascinado com a história: “Podem continuar as vendas, vou fingir que nem vi vocês, e boa sorte”. Ufa!

Já estávamos meio abalados com a recepção na cidade e com a incerteza de lugar para passar a noite, então não podíamos simplesmente desistir por causa do movimento fraco. Insistimos e insistimos, as horas foram passando, mais pessoas foram chegando e as vendas fluíram.

Enquanto perambulamos pela Savassi entramos em contato com os outros viajantes de Kombi que já tinham passado por BH para pedir sugestões de onde dormir. Maicon, que tínhamos conhecido em Salvador e que também estava na estrada com a Lupe, sua companheira, e a bordo da OtraKombi, tinha contatos na cidade e nos ajudou. Ah, essa rede de viajantes nos enche de ânimo <3 p="">
Quase fim de noite, finalizamos os brigadeiros e para nossa alegria, Maicon nos conseguiu um pouso em um bairro próximo dali. GPS ligado e chuva, muita chuva, só para ajudar esses dois seres que NÃO sabem usar esse recurso admirável da tecnologia.
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Nos perdemos várias vezes, mas por fim achamos a casa do Dione e de suas irmãs. Ah, que recepção gostosa! Nos deixou tão aliviados e seguros.
Altos papos sobre as andanças por esse Brasil e como acabamos por nos interligar por pessoas em comum.

Dione, viajante e forrozeiro, passou a juventude nos festivais de forró pelo Brasil, e não é que por essas andanças acabamos descobrindo conhecidos em comum? Eta, mundo pequeno.

Uma chuvinha boa caia e não deixaríamos a Gertrudes passar a noite na rua sozinha, então dormimos nela (depois de tomar um desejado banho). Meleca nos acompanhou, meio agoniado por não poder ficar solto como de costume, mas ficamos com receio pois o fluxo de carros era grande e o Meleca é meio biruta.

Já no dia seguinte acordamos e fizemos um café e reunimos as dicas do coushsurfing de lugares na cidade para conhecer e vender os brigadeiros.

A cidade tinha uma programação rebuscada, mas aparentemente os lugares eram próximos e poderíamos escolher mais de um para ir. O único empecilho seria o lugar para estacionar.
Paramos no Parque da Cidade.  Vini conversou com o segurança se seria permitido oferecer brigadeiros e recebemos um ok. Entramos no parque, olhamos em volta, um amontoado de gente, muito barulho, várias barracas de comidas e doces, as pessoas não nos ouviam. Não, não era nesse ambiente que gostaríamos de oferecer os brigadeiros. Apesar da necessidade, passamos a vez.

Seguimos para o Centro. Estacionamos e um flanelinha veio a nosso encontro, não tínhamos dinheiro pra “pagar”, explicamos a situação pra ele, que muito solícito até nos indicou um local ali perto que estaria cheio de gente em alguns bares. Boa!

Nos bares todo mundo estava assistindo ao jogo do Atlético Mineiro X Flamengo, logo não sobrou atenção para nós hahaha.

Esperamos o fim do jogo enquanto também assistíamos – afinal, Vini é FLA, mas naquele lugar não demonstramos nenhuma torcida. Rodeados de mineiros, seria muita coragem rs.

Finalmente começamos a oferecer os brigadeiros. Uns compravam pela glicose após a bebedeira, outros pela história. As horas iam passando, e o fluxo de pessoas estabilizou. Já tínhamos conversado com a maioria, então optamos em partir para Savassi novamente.

Chegando à Savassi, movimento fraco novamente. Fomos, voltamos, oferecemos, proseamos, choveu, parou, continuamos. Voltamos para a Kombi, demos uma voltinha com o Meleca e as vendas continuavam fraquinhas. Quando faltavam dois brigadeiros, que estavam difíceis de sair, abordarmos um possível cliente e jogamos limpo: “Moço, só falta esses dois brigadeiros e a gente tá cansado pacas, contribui com a gasolina?!” Deu certo rs!

Van totalmente infeliz com a chuva e a cidade rss
Agora era hora de saber onde dormir, e para ajudar caia uma chuva torrencial. Por sorte, o flanelinha que conversou conosco mais cedo, mencionou que um casal num fusca havia estacionado num posto de gasolina ali perto, que apesar de não funcionar 24hrs tinha um segurança durante toda a noite. Resolvemos arriscar.

Chegamos ao posto, bem pequeno, e imaginamos onde estacionaríamos sem atrapalhar o fluxo de carros. Vini conversou com o gerente, acrescentou um pouco de drama a situação, afinal estava chovendo hahah. E o moço, como todo mineiro que passou por nós, era muito gente fina e nos permitiu passar a noite, desde que saíssemos assim que o posto abrisse no dia seguinte, ok!

Mesmo na chuva arriscamos uma volta com o Meleca, que nunca esteve tão preso a coleira como nos últimos dias. Ele também sofre em cidade grande.

De manhã, enquanto passávamos um café, um morador de rua se aproximou e conversamos, trocando figurinhas de viagem sobre esse Brasil.

Ele nos contou que há mais de dez anos está morando nas ruas de BH e que vive com um amigo. Ressaltou que um apoia o outro, principalmente por seu companheiro ter crises de convulsão e vez ou outra precisa de socorro, além de ter que “se virar” para conseguir alimentação para ambos.

Por inúmeras vezes, segundo ele, deixou o amigo se recuperando de alguma crise enquanto procurava por comida, e quando retornou a polícia havia passado e levado todos seus pertences, roupas, colchão, cobertores, etc.

Apontou também as dificuldades de tomar banho ou até para utilizar o banheiro, pois em um posto de gasolina eles sugeriram que ele faxinasse o banheiro todos os dias em troca de poder utilizá-lo. Ele não concordou, dizendo que isso não é proposto aos demais usuários.

Percebemos que BH é uma cidade difícil, assim como todas as cidades grandes. Alguns são invisíveis e se articulam como podem para suprir suas necessidades, visto que a cidade não supre a demanda de todos.

Oferecemos café e cuscuz, ele recusou dizendo: Não tomo café de manhã, só minha dose de cachaça hahaha e ainda nos ofereceu ovos para complementar o cuscuz <3 .="" p="">
O mais surpreendente na prosa é que ele nos contou saudosamente dos seus tempos de musico, relembrou grandes nomes de artistas e de suas participações em festivais de música pelo Brasil, inclusive na Chapada Diamantina, onde teve a oportunidade de dividir o palco com músicos de jazz internacionais.

O papo estava ótimo, mas o horário de término da vaga gratuita estava se esgotando. Como despedida, pedimos uma palhinha de qualquer música que viesse a cabeça e UAU! Fomos surpreendidos com sua voz, que infelizmente estava ali silenciada.

Novamente a bordo da Gertrudes, queríamos explorar a cidade, principalmente o Mercado Municipal. Tentamos estacionar uma, duas vezes. Fomos a um posto de gasolina, explicamos a situação e que queríamos estacionar a Kombi por ali, só para ir rapidinho no mercado, e recebemos um belo NÃO.

Sem cogitar ou lamentar, deixamos BH. Não conhecemos pontos turísticos e nem insistimos nas vendas. Só seguimos viagens, com menos dinheiro do que planejávamos e esperando como a estrada nos surpreenderia nos próximos quilômetros. Próxima parada: Barbacena.

Dione, nosso anjo! Hahahah

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Turistando por Sete Lagoas

Passamos a última noite às margens do Rio São Francisco. Noite tranquila e foi ótimo para recompor as energias e retomar estrada.

De volta à BR, nosso destino era a cidade de Sete Lagoas. Não pesquisamos, mas vimos no mapa e imaginamos que por ser uma cidade grande os brigadeiros poderiam nos render uma graninha para o combustível.

Ao chegar, vimos várias placas indicativas de pontos turísticos, grutas, pista de voo, lagoas e lá fomos nós conhecer hahaha. Começamos pelas sete lagoas que ficavam no meio da cidade e não era cobrada entrada.

Subimos até uma pista de pouso, no alto da Serra de Santa Helena, bem próximo do centro e lá no topo, de quebra uma igrejinha (vocês lembram que apreciamos igrejas antigas e histórias relacionadas né?!), mas a Gertrudes nos deixou na mão logo de cara, não deu conta de subir o comecinho da ladeira. Deixamos ela estacionada e seguimos com o Meleca com a língua pendurada de tanto calor.

Realmente a vista compensava o esforço. É possível ver toda a cidade lá do alto, inclusive as lagoas, que em um momento de distração deixaram a Van tão confusa que não sabia mais o número exato de lagoas que haviam por ali... ora, o nome da cidade é “7 Lagoas” haha. Visitamos a igrejinha e ainda ficamos observando os aventureiros que se arriscam na pista de voo livre.

Que vista! 

O lugar estava cheio, provavelmente de excursões escolares, já que haviam muitas crianças e adolescentes. Ficamos um tempo por ali, observando toda a cidade e recuperando o folego para ir até a Gertrudes, já que teríamos que enfrentar uma caminhada de uns 2Km, mas dessa vez descendo \o/.

Gertrudes retomou o caminho tranquilamente, como se não tivesse nos deixado na mão na subida...abusada! rsrs...


Fotos da igrejinha :)
De volta ao centro da cidade, estávamos mortos e fomos vencidos pela canseira. Não fizemos brigadeiros, poupamos o restinho da energia para dar uma volta pelas lagoas da cidade, e eis que tava rolando uma feirinha com artesanatos e barracas de comidas em volta da Lagoa da Bela Vista, bem no centro. Perdemos uma baita oportunidade com os brigadeiros, pois seriamos os únicos oferecendo esse “produto”. Naquela altura da noite não dava tempo de preparar e esperar esfriar para vender. Vivendo e aprendendo rs

Famílias e mais famílias sentadas nas barracas, música baixa, cidade tranquila, mesmo com o entorno da lagoa repleto de bares e restaurantes. Se fosse em outras cidades, como SP, teriam carros com som ligados nas portas dos bares, muitas pessoas transitando... mas, era MG 💓💓

Dividimos um pastel com o Meleca e saímos com a Gertrudes na procura de pouso, e enquanto circulávamos pela cidade acabamos passando por todas as lagoas, umas maiores, outras pareciam uma pocinha hahaha.

Meleca atento esperando o pastel 

Chegamos a um posto e Vini foi se orientar quanto à segurança, água e banho (as infos padrão) e tudo ok. Com pouso garantido, cozinhamos, banhamos e demos aquela voltinha com o Meleca. Também aproveitamos a internet do posto para pesquisar um pouco mais da região além das lagoas.

Lemos que havia um circuito de grutas no entorno da cidade e que uma delas, a Gruta Rei do Mato, estava bem próxima a nós. Decidimos que no dia seguinte íamos conhecê-la antes de seguir viagem.
Como de rotina, acordamos cedo com o forninho da Gertrudes, tomamos café e bora pra gruta. Pelo que pesquisamos ficava do outro lado da rodovia, quase em frente ao posto em que estávamos e quase perdemos a entrada - ainda teve que rolar uma ré no meio da BR rsrs.

Chegando à portaria, um aviso gigante: taxa de entrada $15 golpinhos...como assim?! E nem teve conversa, mimimi, nada.



Aqui fica o adendo a todos que dizem “essa vida de vocês é o sonho de todo mundo”. Nem sempre...muito se engana quem acha que no caminho fazemos tudo que temos vontade, precisaríamos de muita grana para fazer tudo, e $15 golpinhos nessa situação era uma fortuna pra gente.

A essa altura nossas possibilidades de turistar esgotaram e as opções seriam as lagoas, que havíamos conhecido no dia anterior, e o circuito das grutas, que não rolaria por ser pago e porque as demais grutas ficavam em estradas de terra nos municípios vizinhos e não queríamos arriscar a Gertrudes.

As vezes rola disso... sem dinheiro = portas fechadas. Seguimos estrada, sentido BH, e já nos preparando psicologicamente para uma cidade gigante. A rodovia BR 040 corta MG de ponta a ponta,
tipo de Brasília até o RJ. Quando saímos de Brasília pretendíamos chegar ao Rio de Janeiro, e BH estava no meio... portanto, inevitável.