sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

O show da Gertrudes rumo ao RJ


Muita estrada ainda nos aguardava na saída de Barbacena. Apesar de terem nos avisado que não enfrentaríamos mais subidas devem ter esquecido de algumas. Eis que em uma delas a Gertrudes parou!

Já estávamos próximos de Juiz de Fora e num primeiro momento a ladeira não nos assustou, mas deve ter sido alguma pegadinha da Gertrudes para nos deixar atentos haha. Porque a essa altura (tão próximo do RJ) já cantarolávamos e apreciávamos a estrada como se nada pudesse acontecer.

Vini parou acostamento, deu ré até um local mais plano para a Gertrudes retomar o folego, acelerou, acelerou, acelerou e nada. Paramos, repensamos nossas possibilidades (aguardar o guincho na estrada ou um caminhão generoso para nos puxar). Depois de um tempinho parados, Vini resolveu tentar novamente e beeeeeem vagarosamente a Gertrudes venceu a subida... ufa.

Sempre optamos por não dirigir por mais de 300kms por dia, ou dirigir a noite, até para evitar riscos. E decidir viajar cerca de 200kms de Barbacena até RJ num dia só e no estado que a Gertrudes estava era assumir um risco, mas não víamos outra opção e seguimos.

A essa altura, toda estrada era muito preocupante. Os pedágios não acabavam e a chuva começou a cair, mas enfim cruzamos a fronteira MG X RJ.
A tensão era tão grande que a gente mal conseguia tirar fotos hahaha  então seguem algumas da estrada


Agora faltava muito pouco, menos de 200 kms, mas ainda havia Petrópolis no caminho. A serra de Petrópolis, apesar de muito bonita e a estrada estar em bom estado, era muito estreita e assustadora. A Gertrudes não passava dos 20 Km/H, alguns carros buzinavam, a chuva estava ficando cada vez mais forte, mas não paramos, até porque a visibilidade era muito baixa. Não víamos o carro a nossa frente e nos orientávamos pelas faixas na pista, seria perigoso parar no acostamento e esperar o tempo melhorar.

Apesar de não ser noite ainda (umas 16h) estava muito escuro e com muita neblina. A subida por várias vezes nos venceu, quando receosos e com toda a paciência do mundo encostávamos,
deixávamos os carros ultrapassarem e dávamos um tempo para Gertrudes recuperar o fôlego. O frio era demais, a tempos não passávamos por esse clima.

Pouco antes do término da subida o fluxo de carros aumentou, e apesar de estarmos em baixíssima velocidade (e literalmente parando o trânsito), insistimos em não parar, pois poderíamos não conseguir seguir.

Apesar da tensão ainda conseguimos apreciar o pouco que conseguimos ver da estrada. Mais a frente, eis o alívio: a descida da serra. Muito bem sinalizada, tem muitas curvas e em um trecho a chuva cessou e conseguimos ver Duque de Caxias – RJ logo abaixo, com aquele montaréu de luzes.

Já estávamos abaixo das nuvens quando, por fim, pagamos o último pedágio (depois de mais de 12 no trecho entre DF x RJ). Tivemos um desfalque de cerca de $150 golpinhos (ou um tanque de gasolina para a Gertrudes). Concordamos que a rodovia era ótima, mas por esse valor merecíamos até um cafezinho a cada cabine que parávamos.

Agora faltava muito pouco até a casa dos pais do Vini, algo em torno de 25 km, e o melhor, em linha reta. Mas um pouco mais à frente a Gertrudes parou. Acabou a gasolina! :O

Três quilômetros depois, Vini chegava ao posto para abastecer, gasolina no galão e na hora de pagar, senha errada!

:o

Depois de duas tentativas, Vini estava preocupado em errar novamente e bloquear o cartão, então conversou com o frentista, que o encaminhou ao gerente do posto.

-Seu moço! Tô vindo lá das bandas de BH, eu moro em uma Kombi e viajo o Brasil, moro aqui (Duque de Caxias – RJ), deixa eu só levar essa gasolina e trazer a Gertrudes até aqui e já te pago?!

- Ok! Vai lá!

- _/\_ Muito agradecido!

E lá foi Vini, voando pôr a gasolina na Gertrudes para voltar ao posto e pagar o moço...divida quitada.
Enfim, pisamos em terras fluminenses tarde da noite e com a Gertrudes e nós três insanos e salvos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Sem dinheiro, sem brigadeiro e sem trabalho em Barbacena

Belo Horizonte foi marcante. Saímos de lá com um gostinho amargo por não poder ficar mais devido as exigência da cidade $$$. Estávamos despreparados financeiramente e não tínhamos uma opção de pouso tranquilo para ficar.

A estrada de saída da cidade era tenebrosa, tão íngreme que demoramos quase uma hora para chegar até a BR que nos levaria ao RJ. Por vezes pensamos que a Gertrudes não aguentaria chegar ao final, mal conseguia passar de 20Km/h, mas guerreira que só, ela nos surpreendeu. Devagarzinho fomos nós.

Tínhamos planejado passar por Ouro Preto e Tiradentes – MG, mas pelo caminho recebemos dicas e inúmeros conselhos para repensarmos esse roteiro, pois estávamos sofrendo com a pouca velocidade da Gertrudes e nessas cidades poderíamos passar por apuros. Além das ruas serem feitas de pedras as ladeiras são a perder de vista.

Já fomos irresponsáveis várias vezes antes, usando gasolina adulterada, andando em estradas péssimas e até na situação do facão, e por conta do defeito com a Gertrudes, adquirido ainda no Jalapão – quando tivemos que desmontar ela quase toda pra retirar o combustível adulterado e deixamos toda desregulada -, ela precisava de uma atenção mecânica maior. Mas como uma valente guerreira, ela sabia que não nos podia deixar na mão naquele momento e seguimos viagem.

O Vini e o mecânico arrumando o facão, lembram?

Já na estrada, o novo destino era chegar até Barbacena – MG para passar a noite, já que faltavam apenas dois dias para o aniversário da Van, e queríamos chegar até o RJ a tempo, mas a estrada não colaborava e Gertrudes seguia da maneira que conseguia, bem lentamente.

Longa estrada, muito frio e a fome aumentava. Resolvemos parar em Conselheiro Lafaiete – MG para preparar o almoço e tentar se aquecer um cadim.

O posto de combustível ficava às margens da rodovia, e estava tão frio, mas tão frio que não conseguimos cozinhar do lado de fora. Nós três nos trancamos dentro da Kombi para preparar o almoço. Como queríamos avançar o máximo não nos demoramos em Conselheiro e logo seguimos viagem.

Boa parte do nosso caminho não é planejado, apenas vamos seguindo. Mas, a passagem por MG nos gerou expectativas, pois passaríamos por BH, Ouro Preto e Tiradentes, uma grande cidade e outras duas cidades turísticas, então imaginamos que as vendas de brigadeiros seriam muito boas e nos garantiriam dinheiro suficiente para o trajeto até o RJ e uma reserva para a manutenção. Imprevistos acontecem!

Como já falamos, nem tudo são rosas. BH foi desastroso, e não passamos nas outras cidades. Já estávamos preocupados, pois o consumo de combustível estava muito alto por conta da mecânica ruim, a Gertrudes fazia um enorme esforço em toda subida que enfrentava e os pedágios aumentavam de valor à medida que nos aproximávamos do RJ. O dinheiro estava ficando curto.

Nossa guerreira estava cansada, mas seguia firme :)

Chegamos a Barbacena já de noite e paramos no posto de gasolina na entrada da cidade.

Sim, estávamos muito preocupados. O clima estava pesado, pensávamos e repensávamos alternativas para chegarmos ao RJ, pois a essa altura tínhamos que decidir se usávamos o dinheiro para comprar os materiais do brigadeiro e arriscar dobrar o valor que tínhamos em mãos ou se comprávamos comida, pois a nossa já havia acabado. Escolhemos a segunda opção.

Barbacena não era uma cidade tão pequena, então arriscaríamos uma oportunidade de trabalho. Do outro lado da rodovia tinha um CEASA (distribuidor e comerciante de frutas/verduras/legumes).

Vini conversou com o frentista, que o aconselhou a ir no próximo dia ainda de madrugada, pois era o horário que os caminhões chegavam e ele poderia arriscar um trabalho. Ainda bem escuro Vini saiu e logo depois retornou, já que não era dia de chegada de cargas e os caminhões estavam vazios.

Ainda no posto de gasolina, havia um restaurante gigante e lá vai a Van arriscar qualquer trampo. A gerente explicou que o movimento estava extremamente fraco, mas que poderia nos oferecer uma refeição. Van agradeceu a generosidade da moça, mas tínhamos acabado de saborear nosso velho companheiro de estrada: o cuscuz.

Seguimos ao centro da cidade, onde nos informaram que havia uma boa concentração de comércios e poderíamos arriscar algum trabalho.

Postos de gasolina, construções, lanchonetes, lojas, restaurantes... todos os comércios informavam a mesma coisa: estamos em crise e também não temos como ajudar oferecendo emprego.

Paramos na praça central, sentamos e por ali ficamos observando o vai e vem dos moradores. A cidade flui em baixa velocidade, os carros, as pessoas, no ritmo mineiro que tanto apreciamos. Todos nos cumprimentavam com um bom dia, deixavam um afago no Meleca, que até ganhou uns biscoitinhos.

Meleca estava junto na alegria e na tristeza hahaha

Umas boas horas se passaram e não tínhamos mais alternativas, Vini pediu um help para alguns amigos/primos/irmão explicando nossa situação. E não nos deixaram na mão. Muita gente já nos chamou de doido pela estrada, mas o que tem de doido que nos incentiva também hahaha.

Depois de dois dias, deixamos Barbacena encantados com a belezinha da praça e com as pessoas tão simpáticas.

A essa altura já podíamos respirar aliviados, sabendo que não precisaríamos parar em alguma outra cidade para tentar levantar dinheiro. Decidimos seguir viagem direto até o RJ.

Abastecemos no posto e perguntamos se os próximos quilômetros também teriam tantas subidas e o frentista nos tranquilizou; disse que as piores já haviam passado e só encontraríamos novamente na serra de Petrópolis – RJ.

Pensando que o caminho seria menos tenso, retomamos a BR apostando que chegaríamos no fim da tarde em Duque de Caxias – RJ, na casa dos pais do Vini.