terça-feira, 22 de novembro de 2016

O drama do Facão

No post anterior contamos como foi nossa passagem pelo Mariri e que decidimos encurtar nossa estadia, retornando assim à estrada.

De repente, um forte solavanco. Parecia que andávamos em três rodas. Pensamos que o pneu havia furado e quando fomos verificar.... NÃOOOOOOOOO!

Quando levamos a Gertrudes no mecânico ele olhou apenas a parte do motor e deixou de lado a suspensão, rodas e amortecedor. Eis que o facão havia quebrado, uma peça fundamental na suspenção da Kombi. Sem ela era impossível seguir viagem.



Facão antes e facão depois :(  
Tentamos de tudo e quebramos até uma chave de boca na tentativa de retirar a peça, mas não era assim tão fácil. Decidimos, então, pegar uma carona até Alto Paraíso-GO para procurar ajuda e, quem sabe, um reboque.

Mas como, se não tínhamos nenhum centavo?

A essa altura estávamos a 3 quilômetros de Mariri e a 10 quilômetros da cidade. Van pegou uma carona até Alto Paraíso enquanto o Vini ficou com a Gertrudes e o Meleca no meio da estrada esperando o desenrolar da situação.

Ao chegar à cidade, Van procurou ajuda em um posto de gasolina onde foram muito atenciosos e indicaram uma oficina que talvez pudesse ajudar. Na oficina o mecânico até se prontificou, mas estava sem carro para ir até o local :( a Van mostrou uma foto do ocorrido e recebeu o veredito: “Moça, essa peça é difícil de achar por aqui, só a mão de obra para tirar fica em R$180, fora o reboque”.

FU#$@

Van rodou de um lado pro outro. Precisava de internet e lembrou que havia uma “filial” do Mariri na cidade e foi lá pedir a senha do Wi-Fi. Acionou alguns amigos para levantar uma grana e arcar com os custos, já que não dava pra esperar a venda dos brigadeiros e também seria meio impossível, tendo em vista que tudo estava no meio da estrada a quilômetros de distância.

Amigos e familiares não nos deixaram na mão e logo enviaram uma ajuda $, mas não havia nenhum reboque na cidade. Van até ficou na beira da rodovia tentando parar algum para resgatar a Gertrudes, mas não teve sucesso.

Gertrudes durante o pouso forçado rs

Foi quando um mecânico se dispôs a ligar para um reboque e “marcar uma horinha”. Tínhamos um horário, 20h, sendo que o imprevisto aconteceu às 12h e já eram 16h.

Enquanto isso, Vini não tinha nenhuma notícia sobre o desenrolar da situação, até que o Tadeu, um amigo que conhecemos no Mariri e com quem a Van havia cruzado momentos antes, passava pelo local e deixou a mensagem da Van: “O reboque vem às 20h!”. Ufa!

Muitas horas depois e nada! 20h, 21h, 22h, 23h e nada de reboque. A estrada no meio do mato é escura e deserta, a não ser por um ou outro carro que passava por ali. A Van ficou na saída da cidade com uma garrafa de água à espera de algum carro que pudesse levar pro Vini beber. Sem sucesso, foi dormir na casa do mecânico.

Não tinha jeito, Vini teria que passar a noite por ali mesmo, com fome, com sede e sujo, já que não tinha nenhum riozinho perto.

No dia seguinte, por volta das 7h da manhã, eis que chega Van com o reboque, falando do quão gentil o mecânico foi, que a acolheu na casa dele para que não passasse a noite na rua, do medo de vir a noite pela estrada e das andanças pela cidade atrás de ajuda.

Já com a Gertrudes em cima do reboque, fomos à cidade, ela precisando de um facão e nós de um banho urgente!


Tem que se envolver, né? 
Chegando na oficina o mecânico deu uma olhada, ligou para alguns contatos para ver se achava a peça e nada. Provavelmente só na semana seguinte e a 250km dali.

Entramos em contato com amigos que possuem Kombi para perguntar sobre a possibilidade de soldar a peça. As opiniões se dividiam, uns dizendo que era confiável e outros que não.

Fazer o que, não tínhamos outra alternativa, decidimos pela solda, imaginando que aguentaria até a cidade que houvesse a peça, Formosa-GO.

Dissemos ao mecânico sobre nossa jornada por esse mundão, do dinheiro que estava curto, do sonho de seguir em frente, queríamos comover mesmo (rs).

 Vini se prontificou a ajuda-lo na desmontagem e assim fez. Algum tempo depois o facão já estava soldado e de novo no lugar, montado. O mecânico olhou pra Gertrudes, o desespero bateu, era hora de dar o valor do serviço: “Vocês têm muita coragem em rodar esse Brasil numa Kombi. Não estou aqui para ganhar dinheiro, quero ser amigo de vocês. Deixa R$40 e fica tudo certo”.

Que felicidade ouvir coisas assim! Quase demos um abraço no moço. Além de acolher a Van e nos ajudar de todas as formas, ainda fez um preço mais que camarada pra gente. Nossa certeza de que há gente boa nesse mundo se confirma a cada experiência.

Era hora de matar a fome e enfim tirar toda a terra do corpo.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Alto Paraíso e a viagem nada paradisíaca

No dia que chegaríamos a Alto Paraíso acordamos cedo. Estrada era o que não faltava, então precisávamos começar as atividades logo. Logo na saída de Arraias, cruzamos a fronteira Tocantins/Goiás.

O desempenho da Gertrudes estava ficando cada vez pior. Muito fraquinha, nossa velocidade média não passava de 55km/h e nas subidas ela mal atingia 20km/h no velocímetro. Era preocupante, a jornada se tornaria mais longa, mas nos mantivemos firmes.

Chegamos em Alto Paraíso quase no final da tarde. Tínhamos combinado de passar alguns dias em uma pousada trabalhando em troca de hospedagem. O local ficava há 13 quilômetros da cidade, mas não imaginávamos a situação da estrada que nos esperava.

-_-

Estrada péssima, no velho estilo Jalapão....muita areia, buracos enormes camuflados na areia e só pra ajudar, muita subida.

A medida que avançávamos imaginávamos como seria ir e voltar da cidade para vender os brigadeiros, pois com certeza iriamos abusar da disposição da Gertrudes.

Apesar da preocupação a vista nos encantou, já que a estrada corta uma floresta linda.

Demos uma canseira grande na Gertrudes, mas ela foi muito bem :)  

Chegamos à pousada, e ficamos pasmos. Estávamos no pé da serra, com um paredão surpreendente a nossa frente.

O Mariri Jungle Lodge, pousada em que ficaríamos, é uma reserva que oferece estadia diferenciada no meio da floresta, retiros para artistas e vivências inusitadas em suas casas na arvore.

As trilhas que te levam para o meio da floresta, ou ao pé da serra te envolvem, pois só é possível ouvir o barulho das arvores e dos pássaros.

Conversamos com os demais voluntários, conhecemos um pouco do espaço, o Meleca ficou intimidado com o casal de cães que o recebeu, mas logo se enturmou.

Só foi o tempo de cozinharmos algo e fomos dormir - numa cabana de bambu! Trocamos a Gertrudes por uma noite rs.
O dia começava cedo, tínhamos que tomar café, lavar nossa louça ou fazer qualquer outra atividade pessoal antes da reunião inicial às 9h com os voluntários para que todos soubessem suas atividades diárias.


Nossa vista <3 td="">

A cozinha fica em meio à floresta e bem no alto. Tomar café com essa vista com certeza te deixa mais agradecido pela oportunidade de mais um dia.

A reunião, para nossa alegria (só que não!), era em inglês, pois a maioria dos voluntários eram estrangeiros e os brasileiros eram fluentes no idioma.  Logoooo, aguçamos os ouvidos para nos ambientarmos na conversa rs. Até que não foi difícil.

Apesar de toda belezura do lugar, o trabalho chamava e tomava boa parte do dia.
Bom, uma semana se passou e começamos a nos perguntar onde nos enfiamos. Por conta do problema da estrada resolvemos que não iriamos à cidade com a frequência que planejamos (toda noite) para vender os brigadeiros e garantir o suficiente para nossa alimentação. Enquanto permanecíamos no Mariri começamos a nos preocupar.

Com certeza o lugar era lindo, e não teríamos acesso a conhecê-lo se não fosse pela troca de trabalho por hospedagem. Mas pensando bem, para nós a troca não estava sendo justa.
As verduras e legumes produzidas no local não podiam ser consumidas, pois ficavam para a dona do espaço e para o caseiro.

Algumas coisas produzidas eram descartadas, como café, algodão e feijão. Nos disseram que eram plantadas no intuito de seguir o conceito de agrofloresta, onde se busca manejar a terra com o plantio de diversas espécies, frutas/verduras/legumes, e não apenas um única espécie que degradaria o solo com o tempo.




Nossas atividades não envolviam trabalho com permacultura e agrofloresta. Estávamos envolvidos somente com a harmonização do espaço para os clientes provenientes do Airbnb.

Talvez tenha sido uma falta de comunicação da nossa parte em não esclarecer todas as condições inicialmente.

Buscamos alternativas para retornar a cidade, carona, a pé...rs. Seria possível retornar com o ônibus escolar, mas só durante o dia ou de táxi, que cobra em torno de R$80,00... sem chance!

Infelizmente precisamos diminuir nossa passagem pelo Mariri. O que seriam 15 dias se tornou uma semana. Esclarecemos à Anne, que nos acolheu, que precisávamos retornar a cidade para buscar trabalho – até mesmo nossa comida estava acabando por ali!

Anne entendeu e nos sugeriu lugares para visitar na cidade.

Sim, o lugar é surpreendente e quem tiver condições $ de custear uma estadia por lá faça! A piscina natural, a casa na arvore, a sauna tailandesa, as cabanas e claro, a vista, valem a pena.

Pouco mais de três quilômetros à frente a Gertrudes se revoltou e nos cobrou por todos os esforços que a fizemos passar. Aguarde o drama no nosso próximo post ;)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

O caminho rumo a Alto Paraíso: Chapada da Natividade e Arraias

Pé na estrada, graninha no bolso e um montão de kms até o próximo destino, Alto Paraíso – GO, mas em um dia só seria muito cansativo. Pra que a pressa?


Estrada longa, sem muitos pontos de apoios ou paradas, a mata era predominante em ambos os lados e a ganância também: à margem da estrada, escritórios anunciavam serviços voltados à exploração do agronegócio na última fronteira agrícola do Brasil (Matopiba) até um anúncio de Correntão para desmatamento, prática ilegal e de grande dano ao meio ambiente.


Apesar dos pesares, a vista era linda <3 nbsp="" td="">

Chegando a Chapada da Natividade - TO, ficamos impressionados com a arquitetura colonial e como estão preservadas as casinhas e ruas estreitas.

A cidade foi tombada pelo IPHAN em 1987, talvez por isso os traços do século XVIII ainda estejam tão preservados. Conhecemos as ruínas da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, construída por escravos no século XVIII, mas que não foi terminada por falta de recursos.  

No local, havia uma imensa mangueira carregada de mangas maduras. Van e Meleca se esbaldaram.


Manga madura = muito amor! 

Procuramos informações a respeito de uma cachoeira que havia no local, mas no caminho nos informaram sobre a seca e que não daria pra banhar. Fazer o que... deixamos para outra oportunidade e resolvemos seguir estrada.

A vista era realmente incrível. Em alguns lugares cruzávamos com largos rios, outros com imensos paredões, tudo muito fascinante.

Chegando a cidade de Arraias - TO, a mais alta da região norte do país, o que nos garantiria um climinha mais confortável. Todo o percurso pelo Tocantins foi regado a dias bem quentes, o que nos deixava numa busca insana por sombra, e chegar à última cidade desse estado sem ter de se preocupar com sobra nos confortava.

Arraias é uma cidade de ritmo pacato, e que foi área de exploração de ouro e prata no período colonial. Muitas casas ainda trazem características dessa arquitetura colonial portuguesa. Nas ruas mais afastadas do centro já chegaram as construções mais novas, o que nos indicou que a cidade vem crescendo.

Estacionamos pela praça em frente a igreja e os olhares para o interior da Kombi eram furtivos, todos passavam desconfiados, outros tiravam fotos, cumprimentavam.

Era sábado e todos estavam indo à igreja para os festejos em comemoração à padroeira Nossa Senhora dos Remédios. Passamos com os brigadeiros, na esperança de aproveitar o movimento, já que a Gertrudes estava bebendo um pouco a mais do que o planejado. Apesar da cidade estar cheia os doces demoraram a sair, mas no final tivemos sucesso.

Os postos de gasolina não funcionavam 24 horas, então resolvemos passar a noite no estacionamento da rodoviária. Antes, porém, fomos checar com algumas pessoas sobre a “tranquilidade” da noite no local. Eis que um rapaz a quem o Vini pediu informação disse para passarmos a noite no estacionamento da pousada em que ele trabalhava e ainda nos convidou para jantar.

Convite aceito! Sentamos em um barzinho, no qual estava ele e o pai, o Seu Juca, um matuto criado a vida inteira na roça que contava milhões de causos e contos, e nos deixava boquiabertos com tantas vivencias.

“No tempo de gente besta que não sabia ler nem escrever”, “Inteligente era gente de antigamente, hoje em dia é só cópia do que inventaram lá atrás”, “Pensa num moinho de cana-de-açúcar... foi base para construir tudo que temos hoje”, “Sobe em cima do cupinzeiro pra fechar o corpo”, “Gente com olho ruim faz as coisas darem errada, pode até ser gente de bem, mas tem o olho ruim, aí tem de levar a pessoa na benzedeira pra desfazer o olho” .... Eram causos que não acabavam mais e nos deixavam ansiosos por mais histórias, mas o sono nos consumiu e fomos dormir.

Ainda em Natividade, a igreja em ruínas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos.


Apesar de ser uma cidade convidativa e na qual facilmente prolongaríamos nossa estadia, precisávamos lembrar do nosso compromisso e data marcada  para chegar em Alto Paraíso – GO. O dia seguinte, portanto, seria de estrada logo cedo! Acompanhe para saber como foi J


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

As cartas e o mecânico (e estamos de volta!)

Estamos sumidos, não é? Pedimos desculpas :( a correria, mil coisas para fazer e preocupações com a Gertrudes fizeram com que nosso tempo para o blog ficasse escasso. Mas voltamos para contar nossas aventuras diárias Brasil afora e manter vocês atualizados sobre as novidades!

Ainda em Taquaralto/TO (lembra que a gente precisava de dinheiro pra dar um trato na Gertrudes?), a Van aproveitou a ida até o Centro para comprar a reposição dos materiais do brigadeiro e postar algumas cartas no correio (SIM, CARTAS!).

Van concentrada na produção dos brigadeiros rs
Van passou por uma situação interessante  por lá. Foi postar algumas cartas e mencionou que seriam cartas sociais (o selo custa R$ 0,01, o envelope deve ter como remetente e destinatário pessoa física e o conteúdo pode pesar até 10g).

A atendente olhou surpresa e foi procurar os selos. Ao retornar questionou para quem seriam as cartas e a Van informou que seriam para algumas amigas e seu sobrinho. Ela sorriu e afirmou que não cobraria os selos, pois há muito tempo que não vê alguém postar cartas.

Realmente... em tempos de internet e toda a facilidade do contato imediato, acreditamos que as correspondências tenham caído em desuso, e a moça dos correios nos incentivou a manter esse hábito.

E porque escrever cartas? Porque recebemos muito incentivo e carinho de quem nos acompanha pela página e escrever para essas pessoas foi a forma que escolhemos de retribuir essa atenção de uma forma mais pessoal. Assim, todos que se manifestaram na página com interesse de receber as cartinhas podem ter certeza de que elas foram postadas :D

Enquanto isso, o Vini levava a Gertrudes para receber uma atenção no mecânico, conforme havíamos prometido a ela quando chegamos do Jalapão. Carburador, velas, bobinas, revisão mais do que merecida. E Vini, claro, acompanhando tudo atentamente, para zelar por ela e também para aprender - na próxima, quem sabe, já não precisaremos do colega mecânico.

Olhaí a Gertrudes descansando! 
Van chegou na oficina e o mecânico Antônio logo quis apresentar sua obra de arte. Ele cria projetos para modificação em carros e lá estava estacionada a mais nova: um fusca (hot road) totalmente transformado, teto rebaixado, laterais alongadas, motor 8 cilindros, direção, etc. E ainda prometia mais modificações até que ficasse pronto.

Conversamos um pouco e em pouco tempo ele finalizou a Kombi, mas na hora do teste...não pegava. Ei, moço, tem gasolina? Kkkkk... ô mania de andar na reserva.

Lá vai Vini buscar um cadinho de gasolina no posto ao lado, abastecida e testada. Já notávamos diferença no ronco do motor, Vini saiu para uma volta e comprovou: estava bem melhor.

Por sorte as vendas na região foram ótimas e conseguimos saudar a dívida da oficina. O amigo mecânico com quem já tínhamos feito o orçamento antes também foi beeem compreensivo e cobrou um preço camaradíssimo e possível para nós.

Bom, nossa esperança ao retornar à estrada é que a Gertrudes diminuísse o consumo de combustível, pois frequentemente estávamos ficando sem gasolina - e o pior, sem dinheiro.  Vamos conferir!

Já de volta ao posto de gasolina, só foi o tempo de Van fazer uma boquinha, e estradaaaaaa. Nosso próximo destino seria Porto Nacional/TO, cidade que ficava a uns 50 Km de Palmas. Para verificar o consumo colocamos gasolina em um galão e seguimos viagem, e eis que nem 30 Km à frente a Gertrudes parou. Estava fazendo 8,6 Km por litro, muito pouco ainda, precisávamos que ela fizesse no mínimo uns 10 Km por litro.

A grana estava curta, reabastecemos com a gasolina do galão e continuamos o caminho.  Percebemos que apesar dos ajustes na oficina, o consumo não melhorou. Mas, sentíamos que ela estava mais forte em subidas, o que já era um alívio.

Seguimos em frente. Vamos ver como a Gertrudes vai se portar daqui para a frente. Vem com a gente!