segunda-feira, 21 de março de 2016

Nós dissemos "às vezes" o Universo conspira a favor...


E ae galera, agora foi rapidinho, quem leu o último post viu que começamos a trabalhar em um jornal na Ilha. 

Nossa principal função foi coletar informações para interagir com a comunidade local e montar atividades para as crianças voltadas para a conscientização ambientais e culturais.

Diferente do restaurante, nossa rotina agora era caçar histórias e observar os costumes locais, maravilha!

Todos os dias andávamos e procurávamos tudo o que nos pudesse ser útil para interagir com o povoado da Gamboa, até que lembramos de um projeto que acontecia em Morro de São Paulo nos dias de sábado, o qual visava a reciclagem de forma lúdica para interagir com as crianças. 
Então partimos pra lá pra somar um pouquinho e aprender um bocado.
Muitas crianças participavam do projeto e foi uma alegria só, brincamos de peteca, pular corda, bonecos... Que saudade da infância.



Nesse dia a oficina era pra confeccionar placas com mensagens de conscientização:
Paz
Amor
Preserve a natureza
Paciência 






Tudo muito lindo.

O Bruno, que conduz as oficinas, sabe lidar muito bem com as crianças, usa tudo como instrumento de integração das crianças com o meio...  Muito bem pensado.



O trabalho feito pela comunidade Mãos de Luz, é realmente um diferencial, visto que a consciência coletiva e o cuidado aparentam tão esquecido num paraíso como este.

Voltamos pra casa com uma experiência fantástica, e cheios de idéias na cabeça.
Enquanto isso no jornal, tudo correndo pra idealização da primeira edição, que sairia em poucos dias, e a comunidade ansiosa por esse acontecimento. 

Nossa rotina de trabalho era bem simples, como éramos prestadores de serviço, íamos duas vezes por semana apenas, um dia pra alinhar nossas pesquisas com redatores e buscar um contato maior de interação, outro dia pra reunião editorial onde discutíamos os assuntos para próxima edição.

Um dia, saímos e fomos até a casa de Anathalia, mãe do Oscar, protagonista do curta-metragem "O menino da Gamboa", queríamos emprestado o filme e a autorização para exibi-lo em um cineminha a céu aberto, só que no caminho um chamado.... "ei casal!". Era o Jairo, que nos convidava para uma conversa e uma cervejinha.

Conversa vai, conversa vem, e muitas histórias foram contadas, como o mar recuou, o desabamento da argila, manifestações culturais que se perderam, as fontes de água, os personagens da vila e suas histórias.

Eram muitos protagonistas de diversos acontecimentos, o Zé Maluco e seu remo tão pesado que ninguém levantava, Ray e o cacho de banana que ele comia e o burro não conseguia acompanhar, e talvez, o fato mais estranho e engraçado que não acontece com tanta frequência nos dias de hoje, os "Sentinelas" .

Buli e Modestinho, dois velhinhos fantásticos do local, eles contam causos e piadas em velórios pra não deixar ninguém dormir e ajudar a superar o clima de tensão, os dois são apelidados de "Caju e Castanha" da Gamboa.

Jairo até nos levou para conhece-los, e as risadas foram garantidas.
Tudo isso, cada história, cada coisa que se perdeu, despertou uma admiração tremenda, e a curiosidade em tentar resgatar um pouco desse passado e compartilhar com os mais novos. 

Nossas cabeças fervilhavam de idéias, e tentando conhecer todos os espaços e todos os costumes regionais, imaginávamos como seria interessante reconstruir a riqueza da história e instigar o interesse dos moradores em mante-la viva.



Bom, idéias fluindo a mil, era hora de organizar tudo isso para que não se perdesse. 
E como ficaríamos um tempo maior do que o previsto em Gamboa, decidimos dar um pulo em Salvador pra ajeitar a Gertrudes e leva-la pro atracadouro, próximo a Gamboa.

Chegando em Salvador, muita coisa pra botar em ordem, revisar o funcionamento da Gertrudes, tentar arrumar toda a bagunça dentro dela, além de escrever o projeto com todas as sugestões de atividades para o jornal. 
Um xero nos pais também.


Inclusive, há um tempo já estávamos namorando o hobby de tirar fotos...sempre pensando na possibilidade de comprar uma câmera mais robusta para podermos registrar cada lugar incrível que passamos.

Pensamos, pensamos bastante se seria o momento de "investirmos", aí lembramos que além de termos guardado uma graninha enquanto estávamos no restaurante, também teríamos um salario pelo jornal. Ok, compramos a câmera. 

Pesquisamos, pedimos dicas pros amigos e elegemos a câmera que nos acompanharia rsrs...foi difícil mas achamos uma loja que teria o modelo que queríamos. 

Nessa horas sentimos falta de SP/RJ, onde a oferta de lojas nesse ramo é bem maior, pois em SSA andamos um bucado para acha-la.

Câmera em mãos, Gertrudes em ordem, hora de voltar a Gamboa. 
Todo nosso caminho de retorno foi visto pelas lentes da nossa nova companheira...hahah. Tiramos fotos até dos senhorzinhos no Ferry Boat.




Ilhados novamente, entregamos o projeto no jornal e aguardávamos os materiais para finalmente dar inicio com as atividades e a primeira seria o cinema na praça. 

Enquanto isso, continuávamos a rotina de ir ao jornal vez ou outra para se inteirar do que tava rolando e eis que conhecemos a Sabrina, que iniciaria no jornal como fotografa, na verdade daria aulas para a equipe de redação para que pudessem fotografar as matérias. 

E claro, nos incluímos nas aulas, já que estávamos ansiosos em usar e abusar da câmera.  

Conversamos com a Sabrina sobre a nossa caminhada até aqui a bordo da Gertrudes, e como pra nós foi enriquecedor a possibilidade de desenvolver o projeto na Gamboa.

E ela como toda mineira, de coração enormeeeeee, se prontificou a nos ensinar em paralelo as aulas do jornal.

Continuamos então, a conhecer todos os cantos, fomos ao mangue, fomos conhecer as fontes com a guia Tia Rô (mãe do Robert), o Robert e uma vizinha. 




E claro a caminhada com a presença do Robert promete boas risadas, figurinha.



Passamos pelas fontes do Padre, das Mulheres e dos Homens. 

Fonte do Padre, já não existe mais , mas segundo relatos era a fonte mais próxima da rua do Toque, onde todos lavavam roupas, panelas e louças em geral. Dizem também que leva esse nome, por ser assombrada pelo dito padre que ficava vigiando a fonte durante a noite(não vigiou muito bem né?!). Fato é que de aterro em aterro para construção de casas, a fonte secou.




Andando mais um pouquinho, chegamos a Fonte das Mulheres, ainda existe mas está em péssimas condições, o matagal tomou conta e há muito lixo no entorno. A fonte é murada, e há relatos que antigamente as mulheres iam até lá lavar suas roupas, louças e que enquanto estavam por ali ficam bem "a vontade", rolava uma cantoria e aquela prosa.




Logo a frente, a Fonte Grande ou Fonte dos Homens, está muito bem conservada, pois em 2014 após grande insistência da população, foi reformada. 

Hoje, ainda é utilizada para banhos, mas não como antigamente onde era ponto de encontro dos homens da região.



Mas, pelo que conversamos todo esse costume não data de muito longe, algo em torno de uns 15/20 anos atrás. Talvez por isso todas essas lembranças ainda estão muito vivas.

Hoje ao lado da fonte grande está a estação de tratamento de água da Gamboa.





No caminho de volta, fizemos por uma trilha curtinha no meio do mato, e Tia Rô ia contando que quando saíam da fonte todos paravam nos cajueiros e ali ficam por horas à sombra. Também se mostrou descontente com a quantidade de casas a margem da trilha, pois segundo ela as pessoas foram invadindo, invadindo, aterrando e aterrando e ocuparam espaços que até então eram de uso comum.

Lamenta inclusive que a Fonte do Padre tenha se perdido por esse motivo.

Bacana foi perceber que Robert, mesmo tão novinho já teve contato com todo esse conteúdo, pois ia nos contando detalhes dos locais que passávamos.

Na noite desse mesmo dia, ainda tinha o que conhecer. Teria roda de capoeira no Centro Comunitário. Fomos conhecer e quem sabe rolaria o espaço para alguma atividade.

Fomos muito bem recebidos pelo mestre, que inclusive nos ofertou ajuda no projeto. Mais uma vez pessoas de bem cruzando nosso caminho. 

Conhecemos o presidente do Centro Comunitário, que nos contou o bonito trabalho que tem sido feito com a comunidade, assim como as dificuldades que encontra ao longo do caminho. 

Esgotados, retornando pra casa encontramos uma colega do jornal aos prantos. Nos chamou e nos informou uma péssima noticia:

"Paulo e Jean (representantes do jornal) foram presos, eles são estelionatários!"

Oi?!

Senta que lá vem história....

Enquanto conversávamos, ambos estavam na delegacia "se explicando".

Aos poucos ela foi nos contando o ocorrido, há alguns dias um outro colega de trabalho estava intrigado com Paulo, pois não tinha qualquer informação concreta a respeito dele, que o confirmasse enquanto cidadão. 

Até que nesse dia surgiu a oportunidade de acesso ao seu nome completo, uma rápida pesquisa no amigo Google e batata...a primeira foto era de procurado.
A pesquisa mostrou que o dito cujo era procurado por outros golpes em outros estados. 
Em suma, cobrava valores das pessoas alegando oferecer cursos, com dinheiro em mãos sumia.

Demorou um pouquinho pra cair a ficha....mas, caiu! 

Felizmente não tivemos prejuízos maiores, ao contrário de muitos funcionários, pois soubemos que eles haviam cobrado uma taxa (cerca de 200/300,00) para um curso de secretariado, para que então cada funcionário assumisse um cargo no escritório do jornal.

Todos haviam pago, como também alguns deixaram os serviços em que estavam pela oferta de trabalho no jornal, assim como nós.

Resumo da opera, ficamos preocupados, pois havíamos deixado cópia dos nossos documentos para elaboração do "contrato de prestação de serviços".

Fomos a delegacia fizemos o BO para nos garantir de futuros problemas e mantivemos contato com os demais colegas, e foi ótimo saber que todo o golpe serviu para que os despertassem para tocarem o projeto de um jornal local adiante (agora de verdade).

Os dias passavam e pensávamos: Putz caímos nessa! Mas, tinha que ter acontecido, nos serviu como aprendizado e nos possibilitou conhecer de uma forma surpreendente a Gamboa e suas figuras incríveis.

Bom, infelizmente era hora de reavaliar nosso destino, pois com a promessa de um salário, havíamos abusado um pouquinho e investido na câmera, que agora nos pareceu precipitado.

E como sempre comentamos aqui o custo de vida era muito alto, além de aluguel e alimentação.

Apesar de termos articulado com inúmeras pessoas o inicio do projeto e de termos recebido o convite de tocarmos adiante o projeto do jornal, para nós ficaria inviável.

E decidimos que era hora de partir. Lamentamos romper de forma inesperada e inacabada, mas seria o menos arriscado.

Conseguimos nos despedir de algumas pessoas que nos acolheram de forma incrível  e nos fizeram companhia em todo esse tempo. 

Nossa sincera Gratidão à Cris, Tia Rô, Robert, Anathália, Oscar, Ellen, Jairo (e toda a família que está em todos os lugares, rsr), Juarez, nossa companheiras de trabalho no restaurante e lanchonete Irá, Josi, Iris, Dna. Maria, Tauan, Gil, Bira, Gordo, e os novos colegas do jornal rs, Sabrina, Debora, Aninha, Laís e Moral, também Alana, seu esposo, pequena Lótus e Bruno.

Todos de alguma forma contribuíram com ótimas experiências que experimentamos nesses 4 meses de Ilha. 

Desejamos a todos o dobro de tudo que pudemos partilhar ao lado de vocês.


Gratidão _/\_

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